Saudades dos tempos em que nós designers tínhamos a opção de escolher uma área específica para nos especializar quando atuando em empresas de tecnologia da informação.
Nessa época seguíamos o double diamond como um time uníssono, porém cada um cuidando de uma etapa. O resultado disso era que cada membro do time tinha foco total na sua etapa, o que resultava em muito mais esmero na sua entrega e portanto, ao resultado final do projeto.
Em termos práticos: o pesquisador de UX entendia os objetivos do projeto junto ao seu gerente, desenvolvia e conduzia a pesquisa com as técnicas necessárias para cada cenário e fazia a mágica de transformar os dados em informações úteis ao time, para que pudessem ser convertidas em insights valiosos para melhorar o projeto como um todo.
Por sua vez, o designer de interação, munido das informações propiciadas pelo pesquisador de UX, preocupava-se em desenvolver a melhor experiência ao usuário, cujas necessidades e dores ele já conhecia muito bem. Essencialmente seu trabalho era projetar a navegação entre as telas, para que o uso do sistema fosse o mais simples e divertido possível. Esse entregável era concebido através de documentações de UX, que eram na verdade fluxos de tela que abrangiam casos de sucesso, erro e exceção em baixa ou média fidelidade.
Por fim, mas não menos importante, o designer de interface daria cores e identidade aos fluxos que o designer de interação criou, utilizando-se de conceitos de teoria da cor e da forma, para agregar intuitividade ao sistema.
Pode parecer contraproducente e talvez sem escalabilidade um trabalho em que o time precise atuar de forma segregada, mas minha humilde opinião é de que se produz muito mais quando há foco e especialização.
Hoje, diz-se o termo “UX Designer” para designar o que fora do Brasil já se chama de “Designer de produto”, ou seja um semi-deus, digo… profissional que faz desde a pesquisa aos protótipos de alta fidelidade de interface do usuário.
Quais são os benefícios de se trabalhar com o ciclo de vida completo do produto? Sim, tudo tem um lado bom! A meu ver, o primeiro benefício é da empresa, visto que ela contrata apenas uma pessoa ao invés de 3. Mas para o profissional pode ser muito gratificante experienciar todas essas vertentes para quem sabe descobrir qual sua maior e talvez verdadeira paixão.
E a longo prazo? Temos profissionais que humanamente darão preferência à parte mais analítica de pesquisa do usuário em detrimento ao desenvolvimento de interfaces lindas e coloridas e vice versa. E está tudo bem! As diferenças são o que nos torna interessantes, certo?
Porém profissionais apaixonados pela pesquisa, que suam frio ao pensar em fazer protótipos de alta fidelidade, certamente não se dedicarão tanto a essa parte visual, deixando o seu projeto menos rico nesse aspecto e sendo um tantinho mais infelizes ao precisar fazer algo que não gostam de verdade.
Por sua vez, quem adora criar visuais lindos, provavelmente não terá paciência para desenvolver questionários de pesquisa, nem terá tato ao conduzir entrevistas em profundidade que necessitam de um alto nível de concentração e interpretação de linguagem subjetiva.
Mas o mercado está tão acostumado a essa nova forma de nos ver, que não importa o quão bom designer de interação ou pesquisador você seja, seu portfólio tem que ser visualmente impecável, quando o que deve ser impecável é a demonstração do seu processo.
Dito isso, saudades do tempo em que cada designer ficava no seu galho. Era bom para o nosso próprio desenvolvimento enquanto profissionais, norteava nossos estudos e nossa vocação verdadeira.
Por que será que não vemos cirurgiões aplicando anestesia mas sim deixando isso para o anestesista? Por que não vemos o arquiteto construindo seu projeto com as próprias mãos mas dedicando esse trabalho ao mestre de obras?
A possibilidade de especialização nos dá essa oportunidade de sermos quem somos com inteireza, de nos dedicarmos totalmente à nossa verdadeira vocação!